(EU E PANAIA- 1961)
MEU AMIGO PANAIA-PARTE I
INTROITO:
Recentemente, meu irmão Toninho me enviou
uma mensagem de voz, dizendo que Panaia havia morrido.
Ao ler a notícia fiquei sem chão, sentindo
uma dura pontada no coração, pois Panaia foi meu grande e inseparável amigo, no
final de minha infância e na juventude.
Sabia que estava debilitado, senil, em
estado avançado de Alzheimer, tendo rasíssimos momentos de lucidez, e nesses
raros momentos, muitas vezes citava meu nome.
Chequei a triste notícia com outro irmão,
mais novo, Carlos Augusto (Tai) contemporâneo e também amigo do Panaia, pois
foram colegas durante todo o ginasial e científico.
Para minha grande surpresa, Tai informou
que Panaia ainda vive, embora dependente de ajuda e alheio as coisas.
Esse episódio me lembrou, que eu tinha
iniciado uma espécie de livro de memórias sobre nossos aprontos e aventuras,
mas por preguiça, escrevi apenas uma introdução, não me preocupando com a linha
do tempo, relatando os acontecimentos a medida que me vinham a memória.
Tenho realmente tanto a contar, recordações
maravilhosas, vividas num período em que o mundo era melhor, mais humano, e o
que valia era brincar com os amigos nas ruas seguras, aproveitando a vida nos
tempos da inocência e início da puberdade. Asseguro que aproveitei e vivi
amplamente, sem preocupações e remorsos.
A seguir, transcrevo a primeira parte de
minhas memorias ao lado de Panaia, acrescentando mais a frente outro amigo,
Betinho Bochetti, incluindo tambem algumas passagens com meu irmão Tai, 2 anos
mais novo, que as vezes participava de nossas aventuras.
O capítulo II, semipronto, será publicado
quando meu coração julgar ser o momento oportuno.
Conheci
Panaia quando tinha doze anos.
Havíamos
mudado para a Usina Monte Alegre, que ficava a uns dez quilômetros do centro de
Piracicaba.
A
Usina pertencia a família Morganti, na época, sob o comando da segunda geração,
ainda em pleno vigor financeiro.
Era uma minicidade, com um ótimo grupo
escolar, cinema, supermercado, dois clubes sociais, farmácia, ambulatório,
correio e inclusive um bom time de futebol e mais tarde, uma fabulosa equipe de
futebol de salão, da qual fui um dos craques.
Tinha
mais de cinco mil habitantes e toda a hierarquia de um verdadeiro município.
Seu
nome completo era José Roberto Panaia, meu xará, que se tornou o grande e
inseparável amigo de infância e juventude.
A
primeira vez que o vi, estava de calça curta, descalço e com o inseparável
estilingue pendurado no pescoço. Era baixinho e tinha exatamente a minha idade.
No
início de cinquenta e oito, me preparava para cursar a terceira série ginasial,
enquanto ele, após concluir o primário, havia deixado de estudar, perambulando
pelas imensidões da Usina, caçando e pescando, suas verdadeiras paixões.
Nos
tornarmos amigos de imediato, pois percebemos uma compatibilidade total no
gosto pelas caçadas, pescarias, artes e sacanagens.
Por
insistência de minha mãe, no ano seguinte, Panaia entraria também para o
ginásio, sendo por muitos anos colega de turma do meu irmão mais novo (Tai).
Tinha
um humor e uma presença de espírito imbatíveis. Vivia bolando artes e safadezas
e adorava encher o saco de todos, principalmente em minha companhia, pois como
era bem maior, lhe dava a necessária cobertura.
Um
de seus prazeres era descobrir uma árvore frutífera(goiabeira, caramboleira),
carregada de frutos suculentos e lambuzar o tronco de merda, convidando a
molecada para subir na árvore e degustar as apetitosas goiabas e carambolas.
Vocês
podem imaginar a cena e o desfecho. Era briga na certa.
Certa
vez, um menino que era seu vizinho, não sei por que cargas d´água, pediu-lhe
uma abelha. Sem cerimônia, Panaia lhe mostrou o enxame que havia no quintal de
sua casa, numa pequena mangueira e instou o pidão a pegar o desejado inseto.
Essa aventura custou caro ao inocente, que ficou alguns dias no estaleiro, por
causa das dezenas de picadas.
Sua
mãe, dona Toninha, era muito supersticiosa, acreditava em fantasmas e almas de
outro mundo.
Quando
sua avó morreu, na noite após o enterro, Panaia entrou num guarda-roupas e
começou a arranhar as portas. Foi um Deus nos acuda, com sua mãe e irmãs
fugindo aos gritos pela rua.
Para
escapar dos castigos, costumava se esconder no forro da casa, aproveitando para
fazer barulho assustar ainda mais a família.
Era
o verdadeiro “espírito de porco”.
No
início de nossa amizade, quando ainda não estudava, ficava aguardando minha
chegada e o cumprimento das duas horas de estudos diários que minha mãe exigia.
Após
esse martírio obrigatório, saíamos de estilingue em punho e vara de pescar a
tiracolo, para nossas aventuras.
Nos
tornamos eméritos matadores de rolinhas e pardais, que foram ficando cada vez
mais ariscos e arredios. Matávamos todos os tipos de passarinhos, exceto
beija-flores e andorinhas, se bem que as vezes, esquecíamos essa regra nos
arrependendo posteriormente.
Era
nosso costume, comer todas as aves que abatíamos, por isso com o passar do
tempo, fomos nos tornando mais seletivos.
Conhecíamos
todos os bons lugares para pesca, pois a Usina alem de possuir três grandes
represas, era cortada pelo rio Piracicaba, naquela época, ainda muito piscoso.
Nossos
dias eram repletos de aventuras, principalmente nas férias, quando tínhamos os
dias inteiros para nossos aprontos.
Continua
em ocasião oportuna.
José Roberto- 26/01/15- 18/09/23