MINHA MÃE
Como de
costume, não deixo a data passar em branco, mesmo sabendo ser praticamente impossível
não cair em lugares comuns e alguma pieguice, mas mãe e mãe e a minha foi
maravilhosa.
A história
de minha mãe começou cedo. Filha de um libanês anarquista, refugiado político e
de uma mineira tranquila de Itajubá-MG, tinha 14 anos quando caiu nas graças de
meu pai.
Meu pai,
filho de uma família rica e tradicional de Capivari-SP, estava de casamento
acertado com uma irmã mais velha de minha mãe, se não me engano chamada Lucila.
Quando foi
visitar e conhecer a futura noiva, Tonico, meu pai, então com 17 anos, bateu os
olhos na filha mais nova apaixonando-se imediatamente.
Levou algum
tempo para contornar o “problema”, mas finalmente conseguiu o alvará para a
troca, casando as carreiras com Hercília, uma adolescente de 14 anos.
Como a família
de meu pai era numerosa em Capivari, sendo o dono do cartório um parente, para ter
condições legais de casamento, a idade do casal foi aumentada em 2 anos para
cada um.
Casaram,
tiveram 8 filhos, o mais velho morreu prematuramente, e com os demais, viveram
felizes para sempre.
Tonico foi
um marido exemplar. Dedicou a minha mãe, até sua morte em 1984 , uma amor
invejável. Amou Hercília sem parâmetros, tanto nos momentos difíceis, que foram
muitos, como no início, os anos de bonança.
Meu pai
sempre foi um péssimo homem de negócios. Puro de coração e honesto, acabando em
pouco tempo com a polpuda herança que recebeu.
Hercília não
teve alternativa senão tomar conta do pouco dinheiro da família, pois meu pai
passou de empresário a empregado e ficou extremamente feliz por livrar-se desse
encargo.
Portanto,
todas as minhas lembranças são de minha mãe, cuidando das contas apertadas da
casa, cortando aqui e ali, tentando fazer a grana durar o mês inteiro.
Nunca vi meu
pai reclamar, pois nascido em berço esplendido, com muitas mordomias, tinha que
labutar duro. Satisfazia-se em amar cada vez mais minha mãe.
Obviamente,
minha mãe também amava meu pai, porem era “mais pé no chão”, e mesmo assim
procurava sempre fazer sua vontades.
Lembro, que
tomei gosto pela leitura desde pequeno, vendo minha mãe ler romances, a
tardinha, em voz alta para meu pai, que gostava mais de ouvir que ler. Talvez
nem prestasse muita atenção ao conteúdo, gostando mesmo de ouvir a voz de
Hercília.
Minha mãe
foi uma lutadora, um exemplo de mulher que tentou dar uma boa educação e
formação aos filhos, batalhando duramente contra adversidades e o dinheiro
curto.
Hercília cursou
apenas o primário, que nos velhos tempos era ótimo, dando uma base solida para tornar-se uma autodidata,
pois escutava noticias no rádio, acompanhava a política, obviamente instada
pelo sangue libanês e lia muito.
Recordo que
cursando a faculdade, nos anos de 1963, 1964, acompanhávamos atentos a situação
política conturbada do país, e aplaudimos quando os militares assumiram o poder,
restaurando a lei e a ordem em todo o território nacional.
Conseguiu
que todos os filhos escolhessem e tivessem um diploma que lhes assegurasse uma
vida digna.
Em Piracicaba,
onde viveu por muitos anos, sempre foi uma mulher atuante. Presidente da Obra
do Berço por longo tempo, síndica do prédio onde morava até perto dos 90, uma
mãe sempre pronta a dar o colo aos filhos e aos netos que a adoravam.
Partiu em 2012, aos 101 anos, para se encontrar com Tonico, que aguardava ansiosamente
sua chegada há um bom tempo.
Está muito
bem instalada, ao lado do marido, a direita de São Pedro, de onde, em vigília constante,
olha por seus filhos, netos e bisnetos.
Bença Mãe!
José
Roberto- 06/05/22
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