(DA ESQUERDA PARA A DIREITA- CHUPETA , RICARDO, LUCAS SELVAGEM, EU, MARIO MORENO, RENATO DADA, MARCELO, PINGUELO, ABAIXADOS, LUCAS PEQUENO E MIRO)
CARAVELAS 2021
Todo ano é a mesma coisa, embora em doses diferentes e mais
amenas.
A ansiedade começa quando Ricardo, meu querido sobrinho
liga, anunciando a data da viagem para Caravelas, sempre com boa antecedência,
para que eu tenha tempo de ajustar as coisas com Dona Regina e com a família.
Com o beneplácito da Patroa, que entende perfeitamente
minhas necessidades de cumprir com esse retiro espiritual, para oxigenar e
manter a cuca funcionando razoavelmente(???), começo os preparativos, arrumando
a tralha para evitar esquecimentos, deixando tudo nos trinques.
Com uma precisão suíça, meu sobrinho acompanhado de Carlos,
mais conhecido como Chupeta, me apanham no prédio, no Rio, por volta das
23,30h, recusando-se a tomar um café, embora já tenham rodado desde Itanhaém,
uns 560 km. Querem ganhar tempo, pois o restante da turma, em três camionetes,
seguiram viagem sem o desvio de rota.
Viagem tranquila, talvez por ser madrugada de sábado para
domingo, ou pelo lockdown forçado. Pouquíssimos carros e caminhões na estrada.
Como Chupeta não deve ser grande coisa no volante e eu a
noite, também deixo a desejar, devido aos problemas que tive na vista, o
difícil foi manter-nos acordado, dando apoio moral ao Yellow, que aparentava
algum cansaço lá pelas quatro da matina.
A parada em Ibiraçu para um refrigerante, café e alguns
pasteis, deu novo fôlego a equipe, que contava inclusive com uns ótimos
sanduiches de salame feito em casa, acompanhados daquela Pepsi em lata preta,
um boa surpresa.
Arribamos em Caravelas por volta das 10,30 horas do domingo,
exatamente como o planejado, onde a turma nos esperava, já degustando algumas
cervas.
O grupo era grande, eu, Ricardo, Chupeta, Renato, Lucas
pequeno(filho do Renato), Gabriel Pinguelo(amigo do Lucas Pequeno), Marcelo,
Lucas Grande mais conhecido como Selvagem, Mario Moreno e Miro.
Algumas informações sobre nosso grupo:
Eu, bem eu sou eu, figura manjada. Decano da turma. Rouco de
tanto falar e meter o bedelho em tudo. De mergulhos tenho pouco ou nada a
mencionar. Cada vez mais velho e não aprendo, pois quem fala de mais, fala o
que quer, ouve o que não quer. Apareceu de bicão, uma amiga da empregada que
cuida da casa, feia pra cacete, com um vestido longo cafoníssimo e o sabido
aqui perguntou o porque de estar vestida como uma afegã, tendo em vista o calor
que fazia. A tribufu rebateu de imediato, dizendo que vestia o que queria sem
consultar ninguem. Insisti, dizendo que a vestimenta não era apropriada,
levando rapidamente outro tranco, pois a feiosa tascou na lata, que vestia para
agradá-la e não para agradar outros. Meti a viola no saco e achei melhor calar
a boca, pois a danada tinha pavio curto. Fui motivo de gozação, porem continuo
o mesmo. Pau que nasce torto, morre torto.
Ricardo Yellow, sobrinho querido, sem ofensas aos demais,
porem esse “amarelo” desde pequeno não larga do meu pé; presidente e
organizador dos eventos, alem de ser o dono da casa que abriga toda a cambada.
Foi um grande mergulhador, porem no momento, meio preguiçoso, prefere
destacar-se como Chefe de Cozinha, demonstrando todas suas qualidades. Um
grande coração, pois aguentar e hospedar esse bando não é moleza. Acredito que
essa acomodação seja um prenúncio da idade, pois já dobrou o Cabo da Boa
Esperança(50) e está bem mais calmo, considerando que sempre foi ultra agitado,
curioso e incansável fuçador, tentando e fazendo estranhos experimentos. Graças
a Deus, não comprou guaiamuns, que sempre foram tormentos em nossas viagens de
volta, escapando de suas gaiolas e circulando sobre nossos pés.
Chupeta, que prefere ser chamado pelo codinome. Ex- chefão
dos Correios de Itanhaem e região. Comparece pela segunda vez depois de longa
ausência. Destaque a sua bela barriga, bem maior que a minha, e seu apetite
pela breja e pelo uísque. Embora passasse a maior parte do tempo sentado, feito
um Buda, conversando e tomando todas, acordava cedo e tinha o prazer em
preparar pães quentes para a turma. Fã dos pasteis de camarão preparados por
Yellow, e pelo “olhe a facaaaaa”. Gostava mesmo de encher os saco dos moleques
tarados, especialmente do Gabriel Pinguelo. Alardeia para todos, que após aposentar-se,
a primeira providência foi mandar um velho que o aporrinhava, reclamando dos
péssimos serviços postais, mandando o pentelhão tomar no cu. Preciso checar a
veracidade dessa episódio, que considero suspeito. Grande defeito de ser petista enrustido.
Marcelo, outro querido sobrinho, sério e ponderado, bom
mergulhador que dessa vez não conseguiu demonstrar toda sua categoria, pelas
más condições do mar. Moderado tanto na bebida quanto na comida, contenta-se em
escutar as besteiras ditas pelo grupo, mantendo-se na sua. Enfim um rapaz de
meia idade muito sério. Contribui para a estabilidade do grupo.
Renato Dada, mais outro sobrinho querido. Taludo e grande
parecendo um badejão quadrado. Como todos da família, ótimo mergulhador que não
se entusiasmou em mergulhar em águas não propícias, preferindo dedicar-se aos
arrasto de redes para capturar camarões, por sinal grandes e apetitosos. Graças
a Deus, pela primeira vez não andou atrás de passarinhos, pois é um criador e
sempre nos preocupou em transportar para Itanhaém, espécies proibidas, que se
pego em alguma blitz(passou raspando várias vezes), seria cadeia na certa. O
taludão parece que sossegou o facho, dando atenção especial ao filhote.
Lucas Pequeno, filho de Renato, ótimo menino atingindo a
puberdade e obviamente com os hormônios explodindo. Suspeito que alem de
cobiçar as empregadas da casa, disputava com Pinguelo um campeonato de
punhetas, pois ficavam a noite toda vendo vídeos de sacanagens pelo celular,
acordando ao meio dia com olheiras e cara de cansado.
Gabriel Pinguelo, amigo de Lucas Pequeno, um moleque danado
e tarado. Há dois anos atrás, quando apareceu pela primeira vez, já demonstrava
sua taradice e boca suja. Agora, com uma estrovenga avantajada para a idade, só
pensa em sacanagens, “depenando o sabiá” varias vezes por dia. Tem até uma
programação para suas bronhas numa agenda eletrônica no celular. Deve ter
retornado com a “jeba” esfolada de tanto atritá-la com a mãos, empolgado com as
caiçaras que via na praia.
Lucas Grande, mais conhecido como Selvagem, o trator da
turma, sempre disposto a qualquer parada. Megulhar, arrastar rede, pescar de
molinete, colocar barco n´água, andar de Jet ski , tirar barco e Jet ski
d’água, esculhambar os pés andando descalço na lama cheia de cracas. Caralho, o
cara tem uma disposição invejável, não sei se para impressionar o sogro Yellow,
ou porque tem mesmo muito gás para queimar. Bebe razoavelmente, mas come para
caralho. No café da manhã consome umas cinco xícaras de café com leite, alem de
outros acompanhamentos. Razão de ter muita energia para gastar. A meu ver, o
codinome mais adequado para o Selvagem, seria Trator, pois o homem e um
Caterpillar D7.
Mario Moreno, figura usual em nossas semanadas em Caravelas.
Importado diretamente de El Salvador após vencer inúmeras competições de
mergulho. Transferiu-se para Piracicaba onde alem de ser um tiradentes, distrai-se tomando cervas na Rua do Porto e
mergulhando nas águas turvas do Rio de Piracicaba, que vai jogar aguar pra
fora...Dessa vez também não pode demonstrar toda sua categoria pelas condições
adversas do tempo. Porem, como todos, bebeu e comeu pra cacete.
Miro, debutando em Caravelas demonstrou ser bastante
ponderado. Maior comerciante de carros da baixada santista, sempre disposto a
ajudar na cozinha, expert no preparo de caipirinhas, mas moderado tanto na
bebida quanto na comida, destoando dos glutões e manguaceiros de plantão. Bom
papo, contador de piadas, bom parceiro, junto com Marcelo, elementos de
equilíbrio do grupo.
Waguinho, que não aparece na foto, é o faz tudo do Ricardo,
capanga de confiança, pau para toda obra, porém precisa de marcação cerrada,
exercida por mim, pois é um manguaceiro danado e se bobearmos, começa a
derrubar cervas logo após o café da manhã, semi interrupções, até sucumbir aos
braços de Baco e Morfeu. Me deu trabalho. Vale mencionar, que apesar de seus
aparentes esforços, mesmo após meses em Caravelas, permanece invicto, virgem
feito donzela da idade média.
Saímos poucas vezes ao mar, pois com lua cheia, correnteza e
muito vento, as águas nos arrecifes e corais estavam com pouca visibilidade,
mas mesmo assim, matamos o suficiente para várias moquecas.
Deu trabalho andar atrás dos camarões para suprir nossas
despensas, pois no final da temporada de pesca, os estoques das peixarias
estavam quase zerados e o preços elevados. Porem, procurando bastante
conseguimos o suficiente.
Bom mesmo, de dar água na boca, as “pescarias” de cocadas no
“Tio Berlindo”. Eu que não sou chegado a doces, não resisti a esse acepipe.
Manjar dos deuses. Compramos todo o estoque.
De quebra, conseguimos um mel especial e clarinho, fornecido
por um caiçara local que mantem um grande apiário. Não vimos as abelhas, mais
acreditamos no sujeito, que nos pareceu digno de crédito.
Como de hábito, compramos muita farinha de mandioca feita no
local, que segundo os metidos da turma é especial, muito diferente da que
compramos nos supermercados. Do grupo, apenas eu não nota essa diferença.
Foi uma ótima semana, abreviada em um dia pela mudança do
tempo.
O retorno foi normal, sem qualquer incidente, com a parada
em Ibiraçu, degustação de pasteis, tanques completados e chegada no Rio as
quatro da manhã.
Apesar da insistência, Ricardo e Chupeta preferiram “deixar
o pacote” e seguir de imediato, pois até Itanhaém restava ainda uma boa
jornada, que acompanhei em pensamento até o telefonema de confirmação.
Apesar de torto de cansaço por uma noite privada de sono e
rouco de tanto falar, já sinto uma nostalgia, aguardando as fotos tiradas pelos
amigos e pensando na próxima viagem, que espero não seja apenas no ano que vem,
pois como diz minha cunhada Cecília, nosso tempo é escasso, estamos no final da
régua.
Nesse texto, apesar de longo, não consegui retratar todos os
bons momentos vividos em Caravelas, a troca despretensiosa de gestos e a verdadeira camaradagem entre amigos.
José Roberto-05/04/21