QUARENTENA- DIA 125- CHURRASCO NOS TRINQUES
Sempre fui o churrasqueiro oficial da turma, responsável pela compra das carnes, linguiças,
cervas e outros acompanhamentos.
Todavia, com a admissão de novos membros em nosso fechado
grupo, ando desconfiado que querem me passar para trás e de quebra, usurpar meu
mandato vitalício de sindico, que exerço a “milênios”.
Julgava não ter concorrentes, apesar de ter sido alertado
diversas vezes por Peter Claudião, que seu cunhado, Paulo Pentelho, novo
integrante da turma, tramava nos bastidores meu impeachment.
Como Peter é um
gozador, levava as advertências na brincadeira, mas já estou ficando cismado,
precisando botar as barbas de molho.
Ao acertarmos a data do evento, quando vi as opções
apresentadas pelos novatos, fiquei até arrepiado, pois não teria cacife para
participar de tão fino comensal, onde as opções de carnes e linguiças eram
majestosamente listadas em inglês.
Sentindo minha indecisão, sem mais consultas fui “escanteado”,
assumindo o controle do nababesco evento meu quase declarado rival, Paulo
Pentelho, que passou o cetro para sua gentil esposa Vanessa, a verdadeira rainha
e administradora do lar(igual lá em casa).
Mesmo os companheiros mais antigos, não ousaram levantar um
senão contra minha deposição do cargo de churrasqueiro, um prenúncio que novas
desventuras estão por vir.
Recolhido a minha insignificância, não restou alternativa
senão acompanhar os preparativos através de notas, fotos e vídeos que
circulavam no wahts app da turma.
Ficava ainda mais preocupado com as insinuações
amedrontadoras de Peter Claudião, vaticinando
que o rateio por família, seria bem acima quinhentas pratas.
Cada vez mais ressabiado aguardava o evento, que aconteceu
no sábado, com inicio marcado para as 13,00 horas, após as disputas tenísticas
que começaram um pouco mais cedo.
Devem ter notado que meu desempenho em quadra foi pífio,
preocupado com o valor da conta, pois nos churrascos anteriores que eu
pilotava, a despesa total jamais ultrapassou
mil pratas, dando um rateio mixaria para os participantes.
Jogos encerrados por volta das 11,00 , banho tomado e após
derrubar três caprichadas doses de scotch, descemos para o tão esperado e
temido evento(eu, Dona Regina e Maria Silvia).
O maitre churrasqueiro para valorizar a fortuna que estava
cobrando, trouxe seus próprios apetrechos e já estava com tudo engatilhado.
Vanessa estava recepcionando os que chegavam, aproveitei
para perguntar qual o montante do rateio que me cabia.
Vanessa como uma dama e pessoa de fino trato, sorridente
informou que eu e família éramos convidados, isentos de qualquer taxa pecuniária.
Apesar de sentir um imenso jubilo interno, fingi uma cara de
amuado, insistindo em pagar minha parte.
Quem me conhece bem, tinha certeza do meu fingimento, mas
até tive um bom “mise en scene”.
Soube depois por agentes infiltrados, que a sugestão para
livrar o velho do gasto excessivo, partiu simultânea de todos, Paulo Pentelho, Marcelinho,Zé
Carlos, Miguelito e Peter, o único a torcer o nariz e votar contra foi Carlos
Kagão, pois como todo banqueiro professa apenas o “venha nós, ao vosso reino
nada”.
Aliviado, atraquei-me com gosto aos acepipes e as cervas, apreciando
tudo, inclusive diversos acompanhamentos trazidos pelas gentis senhoras dos
membros da turma.
Estávamos todos, com exceção de Jujuarez, ausente por
motivos particulares de força maior, e Paulinho Explicadinho, afastado
temporariamente pela Covid e por uma implicância secreta de Juju, com meu total
apoio, devido ao atraso no repasse das comissões que já faziam parte do meu
orçamento.
Apesar das intrigas de Peter, tenho notado que Paulo
Pentelho melhorou muito depois que passou integrar nossa turma, talvez pela
influência positiva do demais membros, em especial a minha, pessoa educadíssima
que não fala mal de ninguém(pela frente, só pelas costas).
Estou propenso a alterar seu codinome, passando de ora em
diante a chamá-lo de Paulo Ex-Pentelho.
A única coisa que me deixou chateado no churrasco, foi saber
através de minha filha, que as mulheres do grupo achavam que Dona Regina era
bem mais jovem que eu, ambos em pleno gozo das 75 primaveras, pois apesar de
termos a mesma idade, com apenas um mês de diferença(eu maio, Ela em junho), me
consideravam meio “acabado”.
Falei comigo mesmo: “cacete, como o espelho nos engana”, pois
pensei estar em boa forma apesar de minha provecta idade.
Tirando esse senão, foi uma tarde muito agradável,
principalmente pela companhia querida dos amigos e respectivas senhoras.
Encerrei o expediente por volta das 17,00 enquanto o restante dos manguaceiros
permaneceram firmes até quase meia-noite.
No dia seguinte, vi um recado no zap me reconvocando por
volta das 20.00 horas, mas aquela altura, já estava a sono solto, aconchegado
nos braços de Morfeu.
José Roberto- 20/-7/20
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