A FALTA QUE ELE FAZ
A casa parece estar vazia.
Após quarenta dias, até aquele cheiro azedo espalhado pelos
cantos já desapareceu.
Contudo, ainda vejo em relances sua(minha) sombra ao pé da
cama, ressonando no banheiro enquanto sentado no trono durante as madrugadas,
devorava algum livro.
Meu fiel companheiro no café da manhã, pontualmente as 6,00
da matina, esperando calmamente a meu lado um pedaço de queijo, de presunto ou
uma bolacha de chocolate que comprava especialmente para ele.
Acompanhava seu olhar pesaroso quando me preparava para
sair, abrindo a porta da quarto e permitindo que retornasse a seu canto, agora
ao lado de Regina, que ainda desfrutava de mais alguns minutos de sono, antes
de iniciar sua faina diária.
Participava sempre a meu lado, do almoço e do lanche da
tarde, pois eu que preparava seu “prato”, com ração e um adicional de frango ou
carne, pois o danadinho era enjoado, só comia com alguns incrementos.
Apesar de não ser de uma raça muito inteligente(PUG), Vick
tinha seus hábitos e também conhecia muito bem os nossos. Ao término das
refeições dirigia-se prontamente para o corredor onde guardo meus charutos e
sua sobremesa, um pedaço de chocolate especial para cães que devorava com
imenso prazer.
As tardes, ver um filme degustando um charuto sem o bafo de
Vick nos meus pés descalços, perdeu muito de seu charme. Sinto imensa falta de
sua presença e de seu ronco.
Foi graças ao Vick, que adorava passear e fazer xixi nas
arvores de nossa rua que conheci pessoas interessantes, também passeando com
seus cãezinhos, como a Ana, o Omar, Dona Ema, dentre outros que sem saber o
nome, tornaram-se bons companheiros.
Foram nessas andanças que descobri uma goiabeira diferente,
maior que a tradicional mas que dá pouquíssimos frutos bastantes
perfumados; a pitangueira que produz o
ano todo e um incrível e frondoso tamarineiro, o único que conheci dando frutos
adocicados, exatamente o aposto do tamarineiro tradicional, que dá frutos
azedos, pois só de lembrar, minha boca se enche de saliva.
Não posso deixar de mencionar a grande jaqueira na “Praça da
Macumba”, onde diversas vezes tive que conter Vick e eu mesmo, dada o boa
qualidade das ofertas aos orixás(quibes, coxinhas, guaranás...).
Conheci também nessas andanças, um mendigo que carregava uma caixa de som acoplada a um rádio,
acompanhado de um vira-lata de tamanho médio, espertíssimo. Quando nos
econtravamos, vinha a meu encontro todo faceiro, pois sabia que renderia algum
agrado e algumas rações, pois retornava rapidamente ao apartamento para fazer
um pequeno farnel a essa dupla de andarilhos.
Ao aparecer no portão do prédio, o vira-lata gania de
alegria, sabendo que sua recompensa estava por chegar.
Estou tentando localizar a dupla, para me desfazer do
estoque de ração, chocolates e outras iguarias que eram destinadas ao apetite
delicado do Vick.
Meu filho Junior, encarregado de cuidar do Vick em nossas
ausências(Vick jamais ficava só, sem alguém da família), sentiu a casa
estranha, realmente vazia, em nossa primeira viagem após sua passagem ao céu
dos cachorros.
Eu e Regina e os filhos continuamos pesarosos sentindo a
falta do Vick, pois era nossa sombra
constante, parceiro de todas as horas.
Parentes e amigos nos aconselham a adotar outro cãozinho
para tentar preencher essa lacuna, mas ainda estamos com os corações em luto,
sem condições para mais uma épica jornada.
A casa sem meu fiel escudeiro ficou tomada por uma certa
melancolia, que somente desaparece com a chegada de nossa neta, quase uma
mocinha, prestes a de completar seis aninhos.
Ainda bem que em setembro, alem das flores da primavera,
chegará mais um varão em nossa família. Otávio, o esperado irmãozinho de nossa
querida Lelê.
Quem sabe, até lá já tenhamos tomado alguma decisão.
Que falta que ele nos faz.
José Roberto- 20/05/19
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