ARRUMANDO A CASA
Posso dizer que não sou nenhum exemplo em arrumação, sou
“limpinho” mas meio desleixado.
Ainda bem que casei com uma mulher ordeira, extremamente
organizada, especialista em arrumar malas, operando verdadeiros milagres, caso
contrario, minha casa seria uma bagunça.
Como todos os de idade avançada, não gosto de dispor das
coisas, mesmo daquelas que perderam a utilidade, preferindo guardá-las para uma
pouco provável eventualidade futura.
Em casa, minha mulher resolve a questão. Sem delongas, manda
tudo para o lixo.
Já no meu escritório, quem manda sou eu.
Bem, pensei que mandava, até que meu filho, em férias,
resolveu fazer uma arrumação em meu território restrito.
Estranhou as pilhas de papeis sobre a grande e única mesa de
minha sala.
Expliquei-lhe, que cada “montinho” tinha sua razão de ser.
Um deles referia-se as minhas constantes brigas com a
receita federal; outro acumulava pendengas com empresas de telefonia; mais
outro, acertos com clientes recentes; outro ainda de envelopes usados e o maior
deles, uma montanha de correspondência de um antigo sócio, que jamais se
interessou em recolhê-las.
Meu filho é extremamente organizado a ponto de irritar, não
permitindo bagunça ou nada de estranho em seu quarto. Puxou a mãe e sem dúvida,
um tio, meu irmão mais velho, Toninho.
Recordo, que dormíamos no mesmo quarto e a cômoda do mano
era um esmero de organização.
Numa das gavetas superiores guardava numa ordem militar,
seus documentos, objetos pessoais de estimação, um canivete, um radinho de
pilha e a inesquecível foto da noiva, que olhava com carinho todas a noites
antes de dormir.
Meu sádico prazer de adolescente, era abrir a gaveta e virar
o retrato ao contrário ou de ponta cabeça, atiçando a raiva do irmão mais velho
que sempre me prometia uns “croques”.
Toninho, para ficar livre dos meus ataques, tratou de
colocar uma fechadura na gaveta, impedindo meu acesso.
Para continuar sacaneando-o, adotei a tática de balançar a
cômoda inteira, tirando tudo do lugar.
Se bem me lembro, devo ter levado uns bons tapas por minha
ousadia, pois o mano era bem maior e mais forte.
Voltando ao problema do escritório, meu filhote, incorporado
por algum espírito arrumador, apesar de minha resistência, iniciou uma imensa
faxina, enchendo sacolas a granel, de revistas antigas, envelopes velhos,
correspondências caducas, exames clínicos de mais de dez anos, e inclusive
pastas de antigos clientes, com os quais não mantinha qualquer vínculo a mais
de 20 anos.
Empacamos quando tentou se livrar de alguns antigos
trabalhos feitos nos bons tempos da CESP, nos anos setenta, e alguns, dos
áureos tempos da Eletrobrás, peças importantes do meu passado, das quais jamais
irei me desfazer.
Enquanto escrevo esse texto, o filhote ordeiro aguarda e lê
com parcimônia o jornal, torcendo para que encerre logo minha lida, para retornarmos
a faxina e a nossos embates.
Fico com o coração apertado, pois tenho receio de estar
mandando para o lixo, parte expressiva de meu passado profissional.
Com o passar da idade, nos apegamos a pequenas coisas, sem
importância aos olhos de outrem, mas que para nós representam realizações e
ecos da época em que éramos fortes.
Racionalmente, constato tratar-se simplesmente de temores
típicos da velhice, inerente a cada um de nós, impossíveis de serem evitados.
Mas que dói, dói!
José Roberto- 19/09/12
ATÉ QUE ENFIM!!! Essa sua bagunça no escritório sempre me estressou!!! Sonhava em arrumar tudo em pastas etiquetadas!!! Muito bem Juca!!! Deve estar sendo uma verdadeira sessão de descarrego! Bjs, MF
ResponderExcluirEscreva sua biografia ou então o seu perfil, desde que começou a entender a vida, depois jogue fora tudo aquilo que não incluiu, pois certamente não será importante para você e nem para os outros.
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