MEU AMIGO
PANAIA- PARTE III
O último
texto que escrevi sobre meu querido amigo Panaia, foi em meados de março
passado, após receber a notícia de sua morte. Descansou pois estava mal, com
forte demência e saúde debilitada. Subiu ao céu, onde com certeza está
guardando meu lugar, mesmo sabendo que ainda vou demorar a lhe fazer companhia.
Na ocasião,
fiz uma rápida retrospectiva de sua vida, focando mais no aspecto profissional,
pois para relatar nossas aventuras e aprontos no período de adolescência e
juventude, realmente, teria que escrever um livro.
Panaia era
um grande gozador. Gostava de contar histórias de terror, inventadas na hora,
para meu irmão caçula, André, principalmente a noite, que ficava com medo se
refugiando na cama de nossa mãe.
Suas
histórias começam sempre assim: “eram 5 pra meia noite...”.
Como já
disse, Panaia era considerado membro da família, frequentava nossa casa com
assiduidade, e para acabar com os medos do caçula, que gostava de ouvir suas
histórias, nossa mãe o proibiu de contá-las.
Para não contrariar
as ordens de Hercília, o danado mudou apenas o costumeiro início de seus contos,
que passaram a ser assim: “Eram 5 pra dez pra uma...”, mas o assunto continuava
o mesmo, continuando tudo como dantes.
Panaia
gostava de aprontar mexendo com merda. Quando estávamos caçando com
estilingues, obrigação praticamente diária, chamava minha atenção para um hipotética
rolinha, escondida atrás de um galho, me direcionando para poder vê-la.
Normalmente me conduzia para que eu pisasse em alguma cagada, mesmo sabendo que
após lograr seu intento, dar muita risada, levaria uns cascudos. Obviamente,
fui ficando cada vez mais ressabiado com sua generosidade.
Não” íamos com
a cara” do presidente do clube local, o União Monte Alegre. O apelidamos de
Homero “bundinha” pois tinha mesmo uma bunda arrebitada e espalhamos o
codinome, que pegou e o deixava puto. Escrevíamos seu apelido, com carvão, nas
paredes do Clube, além de colocar palitos no buraco da chave do cadeado que
ficava no porta do cinema, dando uma trabalheira para que fosse aberta, quase
atrapalhando as sessões, que aconteciam aos sábados e domingos.
Para coroar,
tarde da noite ou de madrugada, esfregávamos merda no trinco do portão da casa
do Bundinha, que ficava bem próxima a nossa. Lamentávamos não poder ver o
desfecho de nossa obra, nem mesmo assistindo de longe.
Panaia era
um legítimo “espirito de porco”, pois além de sempre estar matutando uma forma
de encher o saco de terceiros, não perdia oportunidade de me espicaçar, mesmo
sabendo que haveria represálias, pois eu era bem maior que ele, inclusive o
escudo que o protegia dos que tentavam lhe dar o troco. Eu e meu estilingue éramos
bem respeitados.
O danado se
realizava quando recebíamos a visita de um primo, Antônio Bento, ótima pessoa,
alegre, mas desajeitado, principalmente aos nos acompanhar em nossas andanças e
caçadas.
Costumávamos
passar por um local, uma espécie de mangue, principalmente qundo acompanhados
de estranhos, pois sabíamos o local exato onde pisar, nos divertindo quando o
dito cuja caia num atoleiro. Meu primo desajeitado era freguês contumaz dessas
pegadinhas.
Sabendo de
antemão o local onde ficava uma goiabeira carregada, Panaia pincelava merda nos
troncos e oferecia gentilmente a primazia de acesso ao um de nossos
acompanhantes, e Antônio Bento sempre caia nessa, saindo chamuscado , porem
sempre de bom humor.
Antônio
Bento formou-se em medicina se especializando em pediatria. Quando lhe
perguntei o porquê da escolha, dando aquele largo e costumeiro sorriso
respondeu marotamente , que “mesmo errando o diagnóstico, as crianças não
reclamam”. Morreu moço, de enfarto, com uns quarenta anos.
Havia um
sujeito atrapalhado em Monte Alegre, Zé de Lima, que costumava roubar calcinhas
das mulheres, que as deixavam penduradas no varal de seus quintais, para
cheirar os odores pecaminosos. Foi pego em flagrante tentando pescar uma de
suas prendas.
O assunto
foi divulgado com estardalhaço e o tarado passou a ser chamado de “Varal”.
Panaia não perdia chance de importuná-lo, perguntando o tipo de anzol que
usava, o número da linha, até que um dia levou uma rasteira do tarado e saiu
voando, só não apanhou porque eu estava junto, e como já disse era respeitado,
inclusive pelos adultos.
Panaia era o
cão e tenho muito a contar dele e de nossas aventuras. Vou relembrando aos
poucos.
Bons tempos
da juventude irresponsável!
Fora Mula!
José
Roberto- 18/07/24
Tenho acompanhado as "travessuras e aventuras" suas e do seu saudoso amigo Panaia. Confesso que fiz algumas travessuras, juntamente com outros amigos, mas acho que fizeram mais que eu. pode continuar contando que acompanharei e darei algumas risadas. Que nos dias de hoje valem muito. Mas, o que queria enfatizar agora, é que ao ler este texto me veio a mente a excelente música "Volver a los 17", que tem tudo a haver com suas aventuras. Esta canção foi composta em 1962, pela chilena Violeta Parra e ganhou o mundo nas décadas subseqüentes, sobretudo na voz da argentina Mercedes Sosa. Estou ouvindo agora "Volver a los 17", com Mercedes Sosa e Miltom Nascimento, o que me faz voltar no tempo dos meus 17 anos e imagino que se ouvi-la irá também voltar no tempo de suas travessuras juntamente com o Panaia. https://www.youtube.com/watch?v=Lqs4N7cDL4Y (com tradução)
ResponderExcluirQUERIDO AMIGO VANDECO
ExcluirÉ sempre um prazer ler seu comentários, que enriquecem e complementam meus textos. Vou escutar a música sugerida, pois você e bamba nesse assunto e eu bem chucro. Abcs.
gima