NOTA- TEXTO RECUPERADO DO BLOG TERRA OPINIAODOZE, ESCRIITO HÁ
OITO ANOS, REEDITADO EM HOMENAGEM AOS LEGÍTIMOS PROFESSORES, AQUELES QUE EXERCEM
A NOBRE PROFISSÃO COM DEDICAÇÃO E AMOR.
SR. COTRIM FOI UM EXEMPLO DIGNO DESSE SACERDÓCIO.
O QUERIDO MESTRE FALECEU EM SETEMBRO DE 2013.
ATUALMENTE, ENSINA OS ANJOS DO CÉU.
AO MESTRE, COM CARINHO
Hoje, quinze de outubro, dia do professor, lembrei com
saudades do meu antigo mestre, que influenciou minha vida de uma forma profunda
e contundente.
Benedicto Antônio Cotrin foi meu professor de português
durante todo o ginásio e científico, conseguindo com extrema paciência e com
sua grande cultura, me iniciar no caminho das letras e da literatura.
Há muito tempo longe de Piracicaba, perdi o contato com o
velho mestre, tentando buscar notícias mais recentes, recorri ao “Google”.
Emocionado, descobri uma entrevista ao Jornal “A Província”,
feita em 10/07/2006, na época com oitenta e dois anos.
Vendo sua foto e lendo na íntegra suas claras e didáticas
declarações, fiquei comovido, senti uma
aperto no peito, uma saudade imensa e uma tristeza de doer.
Recordei suas maravilhosas aulas no Colégio Salesiano Dom
Bosco, quando desde a primeira série, insistia sempre nas redações semanais,
tarefa que no início fazia obrigado e a contragosto.
Todos os alunos tinham um caderno próprio para essas
redações, que eram lidas e corrigidas com extrema paciência pelo mestre.
A melhor ou a mais original, era escolhida para ser lida em
voz alta na aula seguinte, num misto de vergonha e orgulho para o jovem autor.
Era incrível como todos gostavam de suas aulas. Sabia como
ninguém cativar nossa atenção, lendo trechos de livros, poesias, abrindo nossas
mentes virgens e sedentas para o deslumbrante e mágico mundo da literatura.
No científico, com a turma mais madura, normalmente
ministrava duas aulas em seqüência, por incrível que pareça, esperadas com
ansiedade.
Nessa fase discutíamos os clássicos, os movimentos e fases
da literatura, dando ênfase aos grandes escritores portugueses.
Durante alguns anos fomos vizinhos e abusando de sua
bondade, recorri a ele, para me auxiliar em tarefas de latim e francês, línguas
que dominava plenamente alem de outras, em especial o grego.
Portanto, alem da relação professor-aluno nos tornamos
próximos.
Como seu admirador, me esforçava para corresponder as
expectativas, lendo bastante e caprichando nos textos semanais.
Acredito ter logrado êxito, pois sempre fui um dos primeiros
em sua matéria, ocorrendo o mesmo com relação a história e geografia. Nas
restantes(no científico tínhamos doze matérias, inclusive latim e espanhol) era
mediano, passava raspando.
Durante o período da
faculdade, costumava visitá-lo, em especial no dia do professor, fazendo sempre
questão de levar uma lembrancinha. Lembrancinha mesmo, mas dada de coração,
pois meu reduzido orçamento não permitia maiores extravagâncias.
Ele também se emocionava com essas pequenas demonstrações de
carinho e apreço, pois amava seus alunos.
Pela entrevista, fiquei sabendo que lecionou até 1998,
passando após essa data, a dedicar-se exclusivamente ao Direito Penal, em
virtude de uma promessa feita após um sério acidente sofrido por seu filho, que
teve as pernas amputadas(sempre foi católico praticante).
Sr. Cotrim, dando novo rumo a sua vida, passou a advogar
para os pobres, aqueles que não tinham recursos financeiros para contratar um
defensor.
No fórum de Piracicaba, era conhecido como o advogado das
causas perdidas, daquelas que ninguém queria pegar, por ser difícil, ou pela
falta de dinheiro dos envolvidos.
Como professor, respeitava os alunos, conseguindo dessa
forma que o respeitassem. Sempre exerceu a autoridade, porem sem jamais
confundí-la com autoritarismo, impunha-se pelo s carisma, conhecimento,
paciência e bondade.
Mesmo levando em conta a enorme diferença entre sua cultura
com a dos pupilos, jamais demonstrou qualquer arrogância, sabendo que o tempo
aplainaria essa distância.
Lembrando do velho mestre, me vejo menino sentado na
carteira, captando ansioso suas palavras e vibrando de orgulho quando lia
alguma das minhas redações.
O velho coração bate acelerado, recordando os títulos sobre
os quais exercitávamos nossa literatura incipiente: “Sinal Esperado”, “Caminhos
de Areia”, “A Espada”, “Cicatrizes”, dentre muitos outros pescados em minha
cansada memória.
Éramos obrigados a dar asas à nossa imaginação, escrevendo
sobre temas mais difíceis e abstratos, indispensáveis para o alargamento de
nossos horizontes.
Acredito que conseguiu atingir seus objetivos.
Decorrido tanto tempo, tentarei reparar minhas faltas,
buscando informações com meus familiares sobre o Sr. Cotrin, esperando que ainda viva com saúde,
continuando a defender os pobres.
Minha eterna gratidão ao velho e querido mestre.
Meu Deus, quanta saudade!
José Roberto- 15/10/08
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