DESVIOS DE ENERGIA NA ÁREA DA LIGHT
A primeira página de O Globo do último domingo, estampava a
foto de um poste repleto de gambiarras, tirada em alguma favela do Rio de
Janeiro.
A empresa estima as perdas, motivadas por milhares de “gatos”,
em aproximadamente 20%(vinte por cento) do total da energia consumida em sua área
de concessão, acarretando um acréscimo médio na conta dos consumidores normais(eu
e você), de 17%(dezessete por cento).
Como bons otários, pagamos pela energia desviada nos morros
e favelas, que não cansam de se expandir.
Impossível atribuir culpa pela não inibição desses furtos de
energia aos eletricistas ou fiscais da Light, pois se os pobres coitados
tiverem a ousadia ou loucura de subir num desses postes repleto de gambiarras e
rabichos, com um alicate na mão, com certeza será abatido a tiros.
O problema se agravou ,quando a Light resolveu levar a rede
secundaria para o interior das favelas, permitindo o livre acesso dos traficantes
a essas redes e a proliferação do furto de energia, impossível de ser coibido;
Escrevi um texto sobre o tema em março de 2008, nominando
inclusive o “gênio” responsável pela mudança no sistema de medição, permitindo
a ocorrência desses fatos que nos assombram e penalizam, bem como estimulando o
crescimento das favelas, que passaram a contar com energia farta e praticamente
gratuita.
Apesar de alongar o assunto, transcrevo a seguir o texto
mencionado.
José Roberto- 09/05/15
UMA HIPÓTESE SOBRE O
CRESCIMENTO DAS FAVELAS
Vou relatar um fato
histórico, que acredito tenha contribuído de forma significativa para o
crescimento acelerado das favelas do Rio de Janeiro, em especial das maiores,
situadas em morros, tais com Rocinha, Vidigal, Pavão-Pavãozinho, Cantagalo e
muitas outras.
Até meados de mil
novecentos e oitenta e cinco, a energia elétrica fornecida para as favelas
existentes nos morros era medida em grosso, ou seja, o medidor era instalado na
entrada no morro com medição em alta tensão, resultando na existência de apenas
uma única conta,
Após esse ponto de
entrega a responsabilidade era dos usuários. A energia era distribuída pelas
casas nas favelas sem qualquer cuidado técnico, como ocorre até hoje, porém
existia um importante fator que limitava a expansão das redes, pois a energia
que corria pelos postes das favelas era de baixa tensão e após trezentos
metros, as perdas e a queda de tensão eram muito elevadas, impedindo o
funcionamento de aparelhos e equipamentos elétricos.
Cada favela tinha
seu “gerente da luz”, pessoa encarregada de fiscalizar, autorizar novas
ligações e responsável pela arrecadação dos valores de rateio que possibilitava
o pagamento da conta única da Light.
Portanto não havia
riscos para a concessionária, nem a
possibilidade de furtos e ligações clandestinas, considerando que a medição era
única, em grosso, na entrada no morro.
Nas raras vezes em
que ocorria o corte por falta de pagamento(bem simples na época) e o morro
ficava as escuras, era mais que provável o “apagamento” do gerente da luz, por
não ter arrecadado a tempo ou por ter desviado o dinheiro.
De imediato era
indicado pelos chefões um novo responsável, para que a conta fosse paga e a
energia restabelecida o mais rápido possível.
Com o fornecimento
de energia limitado a expansão das favelas era contida, pois o pobre pode
abdicar de todos os confortos da vida moderna, menos da televisão. É impensável
deixar de ver o Silvio Santos, o Gugu, o Datena e os bispos da Igreja Universal
e derivadas.
Porém, um fato novo
veio modificar essa situação.
Indicado por
injunções políticas para ocupar a Diretoria Adjunta de Distribuição da Light, o
Sr. José Luiz Alquéres, obscuro funcionário da Eletrobrás, apesar de não ter
qualquer vivência nessa área, teve logo de saída, a brilhante idéia de levar a rede de alta
tensão para dentro das favelas, estendendo as redes secundárias e fornecendo
diretamente a energia elétrica para os moradores do local, passando a fazer
ligações e emitir contas individuais, alegando razões de “cidadania”.
É compreensível que
o desmembramento das medições viesse a ocorrer no futuro, porém de forma
ordenada, após a urbanização das favelas, com a abertura de ruas e construção
de redes obedecendo as normas técnicas.
Essa medida
intempestiva e precipitada, originou uma série de problemas para a
concessionária que perduram até hoje e são praticamente impossíveis de serem
solucionados.
Consequentemente, a
instalação da rede de baixa tensão nos morros foi o presente de “Papai
Noel” da Light para a comunidade, que
agradeceu de imediato com o surgimento de milhares de “gambiarras”, “gatos” e
todos os demais tipos de ligações clandestinas.
A redes elétricas
foram se estendo morro acima como se tivessem vida própria, facilitando a
edificação de novas construções e devastando a mata.
Com a emissão de
contas individuais, os valores dos débitos em carteira aumentaram em razão
geométrica e os cortes foram praticamente abolidos, pois os eletricistas não
são doidos nem suicidas para ousarem interromper o fornecimento de energia
elétrica para o “puxadinho” de um favelado. Seriam abatidos prontamente.
Recordo, que durante
o período de racionamento no início dos anos noventa, enquanto lutava com meus
familiares para pouparem energia vigiando para que nosso consumo mensal ficasse
dentro da quota estipulada, da janela de meu apartamento assistia o festival de
luzes ao longe, na favela do Vidigal.
O racionamento só
valia para o pessoal da planície e para quem pagava suas contas.
E o pior de tudo, é
que os débitos em carteira, os “gatos”, desvios de energia e inclusive as
perdas técnicas, são computados no cálculo das tarifas e repassada a todos os
consumidores.
Como de praxe,
levamos na “tarraqueta”.
Tenho a firme
convicção, de que essa medida impensada,
foi um fator de peso que estimulou a expansão das favelas, obviamente em
paralelo com o descaso e omissão dos poderes públicos municipais e estaduais,
preocupados apenas com os votos em potencial dessas comunidades, que no
decorrer do tempo se transformaram em verdadeiras cidades, dominadas com mão de
ferro pelos traficantes.
E por incrível que
pareça, o pai dessa idéia, o Sr. José Luiz Alquéres, depois de ter rodado pela
direção de diversas empresas, sempre “por cima da carne seca”, é o atual
Presidente da LIGHT(deve ter um padrinho muito forte).
Fatalidade ou
destino?
José
Roberto-12/03/08