APOSTANDO NO BICHO
Sou um apostador bissexto, daqueles que raramente faz um
fezinha.
Eventualmente, arrisco um palpite na Mega-Sena e muito de
vez em quando, arrisco no jogo do Bicho.
Recordo, que por volta dos meus 10 anos, quando morava na
Rua Voluntários de Patria, 1091, Piracicaba, meu tio Waldemar, um farmacêutico
marrento e sério, sonhou com nossa casa e traindo suas convicções, arriscou na
milhar a seco, faturando uma nota preta.
Reformou a cozinha e trocou todo o mobiliário, inclusive a
geladeira.
Esse meu tio era tão sério e radical, que certa vez, fui com
um amigo a sua farmácia, comprar determinado remédio para seu cão que andava
meio “pesteado”.
Meu tio realizou a venda, não antes de fazer um emocionado
discurso sobre o absurdo de uma pessoa comprar
remédio para um cão, enquanto muitas crianças morriam por falta de assistência
e medicamentos em nosso país.
Tio Waldemar era um reacionário. Morreu cedo, de um ataque
cardíaco, pois com certeza não resistiria a essa senvergonhice atual.
No cientifico, tive um colega, Armando Carnegão, filho de tradicional família piracicabana, que
era um apaixonado pelo Jogo do Bicho.
Jogava todos os dias e como era muito bom em matemática e
estatística, fazia mapas dos resultados, analisando probabilidades, chances, os
quais me mostrava sem que eu entendesse patavina.
A ultima noticia que tive sobre ele, é que estava muito
rico, dominando o jogo na Vila Rezende.
Há uns vinte anos atrás, tive a minha grande chance.
Havia sonhado com o mesmo tio Waldemar, relembrando no sonho,
que o danado faturou grosso a única vez na vida em que apostou, transgredindo
seus conceitos rígidos.
No dia seguinte, consegui, perambulando pela Av. Rio Branco,
comprar um bilhete que correria no sábado, com a milhar desejada: 1.091.
Comprei o bilhete integral, porem não levei em conta, que na
loteria federal, os prêmios são sorteados com dezenas de milhar.
Conferindo o resultado na segunda-feira, constatei
assombrado que o 1.091 havia dado na cabeça, porem, a dezena de milhar não
batia.
Mesmo assim faturei o equivalente a uns 10 mil reais, que
poderiam ter sido muitos mais, se eu tivesse cravado no Jogo do Bicho, onde o
que conta é apenas a milhar.
Bem, não adianta chorar sobre o leite derramado, nem depois
de ter perdido o bonde.
Tentei algumas outras vezes, sem qualquer sucesso.
Já comentei em textos anteriores, que sonho muito, pois
durmo mal e de forma intermitente, porem esqueço os sonhos logo que desperto,
dando graças a Deus, pois normalmente são pesadelos.
Li, que deveríamos manter um caderno e um lápis sobre a
cômoda, ao lado de nossa cabeceira, para anotarmos um resumo do conteúdo dos
sonhos antes de adormecermos novamente. Recomendação impossível de ser
cumprida, pois seria impossível reconciliar com o sono após essa operação.
Por acaso, ontem sonhei com os cavalos do meu amigo Luiz, o
Bicão.
Por uma acaso ainda maior, lembrei do sonho no escritório e
pensei em arriscar umas vinte pratas.
Eis que recebo um SMS do meu filho, dizendo que havia
sonhado com dois números, pedindo para que eu jogasse no Bicho, por ele.
Por sinal, um dos números, era a centena do cavalo, outra do
camelo.
Desci as 11,30 horas, para cumprir minha sina, pois na rua atrás do escritório, sempre havia dois ou três
apontadores.
Pelo jeito, o Jogo do Bicho passa por uma séria crise, pois
encontrei apenas uma mulher anotando os jogos e para meu azar um fila de seis
pessoas na minha frente.
Com impaciência, esperei chegar minha vez e a “bicheira”
gentilmente, preparou um jogo caprichado, cercando muitas possibilidades.
Abri a mão e arrisquei 50 pratas.
Daqui alguns minutos, descerei ansioso, para conhecer o
resultado da minha temerária e perdulária empreitada.
Aguardem boas notícias.
José Roberto- 27/09/13
Caro Zé
ResponderExcluirGosto muito de suas histórias e de seus causos.
Com simplicidade, você relata coisas que parecem sem a menor importância, mas que fazem parte integrante de nossas vidas, dos bons e velhos tempos, da idade da inocência.
Parabens por esse texto agradavel e reminiscências.
Pedro Paulo
Como você, eu também tive um amigo apaixonado pelo jogo de bicho. Toninho era o nome dele. Jogava todos os dias e quando faturava pagava, para os mais chegados, uma bela noitada na "Ripolândia" de Juiz de Fora. Quando ganhava muito a coisa era melhor. Pagava as "meninas" no K2, que era o melhor 'rendezvous"da cidade. E viva o jogo de bicho!
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