MILTON GAMBÁ E COMPANHIA
Fê, minha caçula, com não poderia deixar de ser, é leitora
fiel dos meus textos, dando preferência aos bibliográficos, quando abordo casos
de minha atribulada infância e juventude.
Ontem, por ocasião do almoço domingueiro, pediu mais
informações sobre Milton Gambá e o sobrinho, que havia mencionado semana
passada, no texto “Boca Suja”.
Atendendo sua curiosidade, aqui vão esclarecimentos
adicionais sobre toda a turma.
Toninho Pretinho era o mais chegado. Tinha a minha idade, de
boa família, educado, bom de bola e companheiro de traquinagens. Se deu bem na
vida.
Tornou-se um advogado respeitável em Piracicaba.
Zelão era um pouco mais velho, sendo mais amigo de meu irmão
Toninho.
Não tenho informações sobre ele, mas deve ter assumindo parte
dos negócios do comercio de seu pai, a tradicional Casa Beccari, que até hoje
existe na Rua XV, esquina com Governador.
Recordo uma ocasião em que ele e Toninho, deram uma bela
sova em dois marmanjos que me atormentavam no colégio. Provavelmente eu devo
ter começado essa picuinha.
Depois da tunda, os dois rapazes nunca mais chegaram perto.
Aproveitei para continuar enchendo o saco dos dois, sob a ameaça constante de
reclamar com o mano e o Zelão.
Milton Gambá era a figura de proa. Bem mais velho. Na ocasião
devia ter uns 16 para 17 anos.
Não trabalhava, dedicando seu tempo a cuidar do sobrinho de
5 anos, filho de uma irmã solteira, a jogar futebol e sua grande paixão, fazer
e empinar belos papagaios(pipas).
Milton Gambá foi meu grande professor, ensinando-me a construir
“barquinhos”, “estrelas”, “maranhões(sem rabo) e outras variedades de pipas,
que com a poderosa linha 24, mandava as belezas para os ares.
Milton morava com a mãe, a irmã e o sobrinho, numa casinha que
ficava num grande terreno na Rua Benjamin, quase na esquina com a Regente. A
irmã era a única da família que trabalhava, arrimo de família.
A primeira obrigação de Milton era cuidar do sobrinho,
arrastando-o para todos os lados.
Recordo de uma ocasião quando estávamos empinando um belo
papagaio, em dia de vento forte, terminando por arrebentar a linha,
forçando-nos a sair em disparada atrás do nosso leviatã.
O danado caiu perto do frigorífico, que ficava onde hoje é a
Cidade Jardim, bairro nobre.
Na época, existiam umas poucas casas, o frigorífico e muita
mata.
Ao recuperarmos o papagaio, topamos com um grande cão, que
arrastava meia mortadela já bem mordida, provavelmente surrupiada do
frigorífico.
Milton partiu para o tudo ou nada com o esfomeado cão,
tomando-lhe a cobiçada presa, que com orgulho e extremo apetite, foi lavada, e
devorada com alguns pãezinhos, comprados num bar da proximidade.
Eu, cismado e meio nojento, lembro que me recusei a participar
do banquete, limitando apenas em apreciar a degustação.
Não sei que fim levou Milton Gambá e seu sobrinho, pois
mudamos para a Usina Monte Alegre, e com o progresso que chegava a Piracicaba,
Milton também deve ter mudado para a periferia, pois a área onde morava era
muito valorizada.
A propósito, seu apelido devia-se a hábito de não ser chegado
a um banho, como podemos facilmente deduzir.
Com essas mudanças os elos foram rompidos, perdemos
totalmente o contato.
Pessoas que passaram por nossa vida, que em determinados
momentos chegaram a ter relativa importância, mas que desapareceram sem deixar
vestígios, sumindo na poeira do tempo.
Rumos diferentes, caminhos diferentes, destinos e sonhos
diferentes.
Restam apenas as boas lembranças, que jamais deverão ser
esquecidas, para serem eventualmente rememoradas com nossos filhos e netos.
José Roberto- 09/07/12
Zé
ResponderExcluirAdoro quando você entra nessa de saudosismo, contando seus casos e aventuras.
Texto simples mas que prende nossa atenção e nos faz lembrar dos bons tempos.
Zé
ResponderExcluirComo são bem parecidas nossas infâncias, sempre com casos e aacontecimentos agradáveis de serem relembrados.
Falta escrever sobre seu amigo Panaia, aquele especialista em formigas.
Zé
ResponderExcluirPelos seus últimos escritos vejo que você está numa fase de recordações, sintomas típicos de que a velhice vem chegando.
Mas de qualquer forma, é muito bem reviver o passado.
Outro texto bem escrito sobre suas vivências.
ResponderExcluirContinue escrevendo para nosso deleite.
Fofinho... gostei do texto, mas sempre fico com pena do cachorro quando escuto esse caso da mortadela... tadinho...
ResponderExcluirMF
Felizmente, anualmente, reunimos nossa turma de infância. Já aconteceram 8 encontros. No próximo dia 28 de julho reuniremos novamente, com amigos de todas as partes do Brasil, para comemorar os 50 anos no nosso time de futebol, que sobrevive graças aos amigos que ficaram ma cidade.Todas as festas forram ótimas e relembramos dos amigos que já se foram, outros que desapareceram nas poeiras das estradas e passamos a conhecer os novos agregados que mantém vivo no nossa Associação Esportiva Everest, criado em julho de 1962, quando conseguimos compra o primeiro jogo de camisa de futebol de salão. Hoje, o time é de futebol de campo. Portanto, eu e meus amigos de Juiz de Fora, também temos o nosso "Miltom Gambá e companhia" para lembrar do nosso bons tempos... obrigado pelo texto de hoje!
ResponderExcluirVanderlei
Meu caro amigo Vanderlei, sempre enriquece meus textos com seus apartes, correções e comentários oportunos.
ResponderExcluirSomos da mesma geração, apenas de lugares diferente, portando nossas histórias e nossos casos são bastante semelhantes.
Um forte abraço e obrigado por ler meus desprenteciosos textos.
Zé(gigi)