SEMANA SANTA 2024
Quando era menino, recordo que após os eventos pecaminosos do
carnaval (bem mais inocentes que os atuais), o país entrava num período
terrível, de choro, penitência e ranger de dentes, a quaresma.
A programação das rádios era alterada, tornando-se monótona e
cansativa. A televisão ainda engatinhava ou nem mesmo existia.
Era um período em que a alegria era banida das residências e
da comunidade, tempo de expiação dos pecados cometidos, de jejum e abstinência.
Segundo os pregadores, na quaresma, o diabo botava as mangas
de fora, costumando aparecer para atormentar os impuros.
Alguém havia me assoprado que os redemoinhos eram sintomas da
presença do demo. Ficava sempre alerta, mesmo quando empinava meus
papagaios(pipas) em dias ventosos. Qualquer rajada mais intensa causava
arrepios, esconjurados com o sinal da cruz.
A semana santa era a fase culminante da quaresma.
A semana era curta, pois ao contrário do que ocorre
atualmente, a quinta-feira era também feriado nacional. Os cristãos costumavam
chamar a quinta de endoenças, como o Dia de Todos os Santos, popularmente
chamada de dia de São Nunca.
Um alerta, para aqueles que prometiam algo para o dia de São
Nunca.
A Sexta-Feira Santa era um dia tão sagrado, que não se
admitiam risadas ou conversas em tom mais elevado. Jesus Cristo estava morto,
preparando-se para a ressureição. O clima tinha que ser de velório e
recolhimento.
Numa dessas sextas, ousei dar uma escapada com meu
inseparável amigo Panaia, até as barrancas do rio Piracicaba, pois a água
estava boa e propícia para a pescaria de piabas.
Alem de não pescarmos nada, minha mãe, como um anjo justiceiro,
aguardava minha sorrateira chegada. Lembro de ter levados uns bons cascudos e
beliscões, coisa leve, muito barulho por nada.
Atualmente as coisas são bem diferentes. Praticamente nem
percebemos que estamos na quaresma, dias normais, apenas lembrados pelos padres
nas missas dominicais.
O povo somente acorda para o fato, pela intensa propaganda do
Domingo de Pascoa, com ofertas de chocolates e ovos caríssimos, e também porque
a Sexta-Feira Santa continua sendo feriado nacional, propiciando um final de
semana gordo.
Os católicos, ao menos a maioria, ainda mantem a tradição de
não comer qualquer tipo de carne nesse dia sagrado, caracterizando-se como o
dia nacional do consumo de peixes e frutos do mar, em especial do famoso
Bacalhau, que também custa os olhos da cara.
Conforme já abordado no texto, tenho escutado muitas
conversas de pessoas, que juram de pés juntos, que nessa época, por onde Mula,
o maior ladrão de nossa história, passa e arrota suas mentiras, é comum que se
formem intensos redemoinhos, provando que os nove dedos é mesmo filho do Capeta.
Ainda bem, que mantendo a antiga tradição, o povão,
principalmente no interior, aproveita o Sábado de Aleluia para malhar com gosto
“bonecos representando políticos e outras “personas non gratas”, única forma de
demonstrar o repúdio e aversão para com esses canalhas, acima do bem e do mal.
Pena tratar-se apenas de bonecos!
Fora Mula!
José Roberto- 28/03/24